Pandemia 2021
 



Cronicas

Pandemia 2021

Clotilde Grassi



PANDEMIA 2021

Sobrevivendo sem o vírus mortal já, no segundo ano de pandemia. De início, a surpresa, a incredulidade. Depois, fechada em casa, esperei 15 dias, um mês, 60 dias, e lá se vão quase dois anos. Retomei, quando o susto maior passou, meus passeios no Parque.
A epidemia surgiu trazendo consigo pavor, afetando minha calma e paciência. Me fez angustiada. Tomou conta do meu apartamento, do meu prédio e do Parque Marinha aqui em frente. Subiu até as nuvens, invadiu as galáxias, ultrapassou o buraco negro, seguiu rumo ao infinito e não mais arredou pé.
O tempo parou, esqueci a idade exata dos filhos, a minha (para o bem ou para o mal?), sem comemorações, sem abraços apertados, não sei quando vamos recomeçar a contar o tempo de novo. Me causa torpor andar em círculos, tipo cachorro perseguindo o próprio rabo. Sem sair do lugar, cada dia parece igual ao outro, a não ser quando resolvo meditar, ler ou escrever. Escrever não o faria, não fosse minha mestra puxar e conduzir lives, oportunidade em que vejo minhas amigas escritoras e me sinto viver.
Esta bolha invisível me faz perguntas, sem me libertar. Presa nesta redoma caseira, presa por uma perna imobilizada, presa pela minha cadeira de rodas, tendo me aliar ao silêncio para voar mais alto em pensamento e raciocínio. Lá do alto, o Criador observa, com sua calma e paciência, esperando que o mundo acorde para coisas maiores, para a solidariedade, para a entrega, para o amor.
Arrastando minha cruz ao lado de Cristo, sinto que é lançada luz ao meu caminho, com um “vamos lá”, que a coragem vem. Medindo forças, vou, porque cada dia preciso honrar minha existência, minha ainda latente maternidade, como o sol disputando com as nuvens, às vezes mais claro, outras vezes, sombra.
Porto Alegre, agosto/2021

 

Cadastre-se para receber dicas de escrita, aviso de concursos, artigos, etc publicados no portal EscritaCriativa.com.br